O recém-eleito papa Leão XIV, o primeiro pontífice norte-americano da história da Igreja Católica, assistiu ao filme Conclave pouco antes de entrar em isolamento no Vaticano para a votação que o escolheria como líder máximo da Igreja. A informação foi revelada por seu irmão, John Prevost, em entrevista à emissora NBC Chicago.
Segundo John, a conversa ocorreu dias antes do início do conclave. “Eu perguntei: ‘Está pronto para isso? Assistiu ao filme Conclave para saber como se comportar?’”, contou, em tom bem-humorado. “E ele tinha acabado de assistir, então sabia como se comportar. Era uma tentativa de distraí-lo, fazê-lo rir um pouco antes dessa responsabilidade imensa.”
Ainda de acordo com John, os dois irmãos também jogaram partidas de Wordle e Words with Friends virtualmente nos dias que antecederam o conclave, como forma de aliviar a tensão. “Era uma maneira de distrair a mente dele da realidade que estava por vir”, afirmou.
O cardeal Robert Francis Prevost, de 69 anos, foi eleito papa nesta quinta-feira (8) após dois dias de votações secretas entre 133 cardeais. Nascido em Chicago, ele se torna o primeiro papa oriundo de um país de maioria protestante e o primeiro norte-americano a ocupar o trono de São Pedro.
Embora o novo pontífice não esperasse ser escolhido, seu irmão revelou que considerava a possibilidade. “Ele não achava que seria ele. Mas eu suspeitava. Pelo que eu lia e ouvia, havia três nomes fortes: o cardeal das Filipinas, o Secretário de Estado e ele”, disse John.
O filme Conclave, dirigido por Edward Berger e baseado no romance de Robert Harris, retrata uma eleição papal fictícia e ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 2024.
O que há de verdade no filme?
Com o Vaticano em efervescência, o filme Conclave, indicado ao Oscar de 2024, ganha ainda mais relevância ao dramatizar uma eleição papal fictícia com impressionante realismo – embora com algumas liberdades criativas.
Baseado no romance homônimo de 2016, escrito por Robert Harris, ex-jornalista britânico e autor consagrado de ficções históricas, Conclave acompanha a fictícia eleição de um papa. A obra, escrita após o conclave que elegeu Francisco em 2013, é fruto de extensiva pesquisa, incluindo conversas com o cardeal britânico Cormac Murphy-O’Connor, falecido em 2017. O roteiro, assinado por Peter Straughan, também contou com entrevistas com membros do alto clero e uma visita privada ao Vaticano.
A produção dirigida pelo suíço Edward Berger foi filmada em Roma, com meticulosa recriação de ambientes sagrados nos estúdios Cinecittà – tradicional reduto do cinema italiano. A Capela Sistina foi reconstruída com minúcia, e a Casa Santa Marta, residência oficial dos cardeais durante o conclave, recebeu algumas adaptações artísticas. O figurino, fruto de pesquisa em alfaiatarias litúrgicas como Gammarelli e Tirelli, também reforça o compromisso com a autenticidade.
O filme não apenas recria os cenários do Vaticano com precisão; ele também retrata de forma realista os rituais do conclave. Os diálogos, o sistema de votação, os votos depositados na urna, a destruição do anel papal e até os fornos que produzem a emblemática fumaça branca ou preta foram reproduzidos com fidelidade. A precisão foi tamanha que, segundo o Politico, alguns cardeais novatos assistiram ao filme como preparação para o conclave real de 2025, como o então cardeal, Robert Prevost.
Entretanto, nem tudo em Conclave segue à risca o protocolo do Vaticano. A disposição das mesas na Capela Sistina difere da real, e certos elementos do enredo – como a presença de um cardeal nomeado in pectore participando da eleição ou as quebras de sigilo cometidas pelo protagonista interpretado por Ralph Fiennes – extrapolam os limites do que seria permitido. Esses pontos, embora dramáticos, são improváveis no contexto eclesiástico.
O maior choque para o público talvez seja o desfecho surpreendente da trama – uma reviravolta que dividiu opiniões, especialmente entre católicos mais conservadores. Sem revelar detalhes, o final levanta questões morais e eclesiásticas provocativas, o que reforça o caráter fictício da obra.
Ainda assim, Conclave impressiona pela sua ambientação fiel e pela complexidade dramática. Mesmo com suas licenças poéticas, é uma produção que respeita a solenidade do processo papal e oferece uma janela rara – ainda que imaginativa – ao ritual mais fechado da Igreja Católica.
O filme está disponível no catálogo do Amazon Prime Video.