Uma reviravolta agitou o cenário do futebol brasileiro nesta quinta, 15/05: o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, foi afastado de seu cargo por decisão judicial, desencadeada por sérias suspeitas de fraude envolvendo um laudo médico. O documento em questão, assinado pelo ex-vice-presidente da entidade, Coronel Nunes, de 86 anos, tornou-se o pivô de uma intensa disputa nos bastidores da confederação.
A oposição a Ednaldo Rodrigues lançou mão do referido laudo médico, que atestava um quadro de câncer cerebral e déficit cognitivo sofrido por Coronel Nunes em 2023, para questionar a validade de sua assinatura em um acordo crucial. Este acordo, firmado no início de 2025 e protocolado no Supremo Tribunal Federal (STF), formalizava o reconhecimento da eleição de Ednaldo Rodrigues para a presidência da CBF, ocorrida em março de 2022.
Tumor no cérebro
O documento médico central para a controvérsia foi elaborado por Jorge Pagura, presidente da comissão médica da CBF, profissional que acompanhou uma delicada cirurgia cerebral pela qual Coronel Nunes passou em 2023. Curiosamente, o laudo foi inicialmente utilizado pelo próprio Coronel Nunes em um processo judicial no Pará, sem caráter sigiloso, para interromper descontos de pensão em sua aposentadoria, mencionando o “déficit cognitivo” do dirigente.
A posse do laudo pela oposição deflagrou uma estratégia para contestar a legitimidade da assinatura de Coronel Nunes no acordo de reconhecimento da eleição de Ednaldo Rodrigues. Para embasar suas alegações, a oposição contratou uma perita para realizar uma análise técnica da assinatura presente no documento do STF. O parecer técnico resultante apontou para a “impossibilidade de vinculação do punho” de Coronel Nunes à assinatura em questão, levantando dúvidas significativas sobre a autenticidade do aval do ex-vice-presidente.
Laudo divergente
O laudo pericial também destacou “divergências em relação aos padrões apresentados” na assinatura questionada, além de ressaltar a fragilidade do próprio documento do acordo, que não possuía grampeamento ou fixação das folhas e tampouco apresentava rubricas. Um ponto que ganhou destaque foi o histórico da empresa contratada para a perícia, que já teve trabalhos anteriores contestados em casos de grande repercussão.
A CBF, por sua vez, contestou veementemente as acusações. No entanto, um elemento que adicionou mais incerteza à situação foi a ausência de Coronel Nunes em uma audiência judicial crucial, na qual ele poderia ter esclarecido os fatos e dissipado a polêmica. Segundo o advogado do caso, a família do dirigente informou que suas condições de saúde o impediam de comparecer, mesmo com a oferta da realização da audiência por videoconferência, com a filha mencionando sua internação em um hospital em São Paulo.
Diante da suspeita de fraude, aliada à delicada condição de saúde de Coronel Nunes, a Justiça do Rio de Janeiro proferiu a decisão de afastar Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF. A sentença foi emitida pelo desembargador Gabriel Zefiro.
Filho de ex-presidente assume
Com a vacância do cargo, o vice-presidente da CBF, Fernando Sarney, assume a presidência interinamente. Sarney, que figurou entre os que moveram ações judiciais nas últimas semanas buscando o afastamento de Ednaldo Rodrigues, terá a missão de convocar novas eleições para a presidência da confederação com a maior brevidade possível. Em suas primeiras declarações, Sarney sinalizou a intenção de manter o acordo já estabelecido com o técnico italiano Carlo Ancelotti para comandar a seleção brasileira.
O afastamento de Ednaldo Rodrigues e a ascensão interina de Fernando Sarney abrem um novo capítulo na conturbada história da CBF, com a expectativa de uma rápida convocação de eleições para definir o futuro da entidade máxima do futebol nacional. A investigação sobre as suspeitas de fraude no laudo médico de Coronel Nunes deve continuar a ser acompanhada de perto, com potencial para gerar novos desdobramentos nos próximos dias.